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Se a chuva não ajuda, irriga

Pela importância socioeconômica da agricultura, mais a fragilidade em relação aos efeitos climáticos, ficar aguardando as bênçãos de São Pedro não, é definitivamente, um bom negócio. Ainda mais considerando-se que a população mundial pode chegar a 9,2 bilhões de pessoas em 2050, conforme previsões da Organização da Nações Unidas (ONU). Serão praticamente, mais 3 bilhões de bocas para alimentar, sem que, para isso, haja qualquer prejuízo ao meio ambiente. Se a tecnologia pode ajudar, o melhor é aproveitar.
De acordo com o especialista em infra-estrutura para abastecimento de água do Departamento de Recursos Hídricos do Ministério da Interação Nacional (MI) Demétrios Chistofidis, o incremento conquistado com a irrigação pode surpreender tanto no volume quanto na qualidade da produção, além da vantagem econômica. Para se ter ideia, a produtividade do feijão pode ser ampliada em 492% num comparativo entre o cultivo convencional (388 kg/ha) e o irrigado (2300 kg/ha). Da mesma forma, o crescimento pode ser visto em outras, como milho, soja, trigo e diversas frutas e legumes (veja mais no quadro “Produtividade: irrigação por pivô central”).
A argumentação do profissional está baseada em dados de brilhar os olhos de qualquer empresário rural. “A expansão da área irrigada traria benefícios como garantia de produção, atendendo a padrões comerciais mais sólidos, próprios de contratos mais rentáveis; e redução dos avanços sobre novas áreas, pois a agricultura irrigada permite aumentos que passam de três vezes na produtividade física frente à de sequeiro. A adoção do sistema na pecuária também é positiva, com desempenho semelhante ao da agricultura”, explica. Chistofilis salienta, ainda, o impacto na lucratividade com a venda de produtos obtidos com a irrigação, que pode ser de sete a oito vezes superior.
Fernando Braz Tangerino Hernandez, coordenador da Área de Hidráulica e Irrigação e chefe do Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos (DEFERS) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP – Ilha Solteira, SP), concorda com esse diagnóstico. Mas comenta que mesmo quem já aderiu a essa tecnologia não a aproveita como poderia, ou deveria. “Muitos ainda não estão suficientemente esclarecidos e/ou convencidos das vantagens em se adquirir projetos adequados de irrigação e confundem investimento com custo”, justifica. O professor da UNESP ressalta que há barreiras a serem superadas para que a prática avance entre as lavouras brasileiras. Do seu ponto de vista, o atendimento da legislação ambiental é um processo burocrático e muitas vezes moroso, embora não deixe de ser exigido, conforme instituído pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente, na Resolução Conama 284 de 2001 (as informações podem ser encontradas no site www.mma.gov.br/port/conama/res/res01/res28401.html).

Espaço para crescer

Nos Estados Unidos, 71% da agricultura é irrigada. Aqui, a tecnologia está em no máximo 12% dos 29,6 milhões de hectares aptos às lavouras
Mecanismos de suporte – “No passado o principal critério para decidir o uso ou não da irrigação era a distribuição de chuvas e a sensibilidade do cultivo a um déficit hídrico. Hoje, mesmo em regiões consideradas aptas à agricultura convencional há investimentos nessa tecnologia.” A constatação do gerente agronômico da Netafim Brasil, empresa de equipamentos para irrigação localizada, Nelson Sá, confirma uma oportunidade que pode e – por que não? – deve ser utilizada como forma de ganhar espaço nos concorridos mercados agropecuários nacional e internacional.
O primeiro passo para a implementação de um cultivo irrigado é avaliar se o sistema permite maior produtividade e averiguar qual a quantidade de água e energia (elétrica ou por diesel) consumida pelos equipamentos. Na escolha entre os métodos disponíveis - superfície, aspersão, localizada e subirrigação – o conselho de Sá é optar por aquele que potencializa ao máximo a produtividade da cultura e seja o mais eficiente possível no uso da água e energia. Para identificar tal situação tal condição, é necessário o apoio de especialistas, como engenheiros agrônomos ou agrícolas, que analisarão e discutirão as normas técnicas a serem seguidas na elaboração do projeto. “Nessa etapa, é realizada a verificação da água disponível na propriedade e as demandas de evapotranspiração da plantação. A partir daí, são definidos os critérios hidráulicos e os investimentos”, explica Hernandez, da UNESP. Também entram na análise fatores como desnível e distancia da fonte de água até a área irrigada; formato da área e topografia; espaçamento das linhas e alinhamento; e a demanda de água.
De acordo com Christofidis, a decisão passa ainda pelas características da plantação, do solo, do clima e da água. Ele exemplifica que a rizicultura se distingue por ser atendida pelo método de superfície do tipo inundação, pois os ventos com alta velocidade dificultam o uso da aspersão. Solos com declividade ou relevo acentuado complicam a irrigação por superfície, caso não haja medidas conservacionistas. Já a água com sedimentos torna o uso do sistema localizado mais oneroso. O especialista ressalta, ainda, que “no tocante a investimento, o sistema por superfície tem com custo que, em geral, varia de US$ 1200 e US$1600 ha e a localizada, entre US$ 1800 e US$ 2300/ha”.
O outro ponto destacado, desta vez pelo gerente comercial da LindSay América do Sul, Wilson Roberto Roma, é que o controle da água via irrigação possibilita o planejamento da data de plantio, evitando os períodos de maior incidência de pragas e doenças.
Manejo racional – Hernandez ressalta que a “grande preocupação dos produtores está em quando e quanto irrigar”. Para ele, saber o momento certo de implantar o sistema e quanto de água utilizar é o objetivo do manejo racional. “Hoje tem se verificado, além de elevação dos custos da energia, a escassez dos recursos hídricos. Isso obriga o irrigante a assumir posturas diferentes acerca deste assunto e pensar nos aspectos econômicos do processo.”
O professor da UNESP explica que é preciso conhecer e respeitar, a “freqüência de irrigação”, ou seja, o numero de dias decorridos entre uma rega e outra. Esse item pode ser fixo ou variável, dependendo da postura assumida pelo produtor. A opção fica tem a vantagem de possibilitar a programação das atividades ligadas ao sistema, já que se sabe, por antecipação, o momento em que a irrigação acontecerá, ficando apenas a definição do volume de água. A variável possibilita definir, com bom nível de aproximação, a quantidade de água a ser aplicada. “Existem três processos para esse controle: com referencia nas condições atmosféricas; de água do solo; e de água nas plantas. Pode ser feita também a conjugação do controle via atmosfera e solo. Porém, antes de tudo é preciso ter conhecimento da cultura que se está trabalhando, do ciclo fenológico, das exigências de água e seus períodos críticos.”

Expansão da agricultura irrigada

Um total de 90 projetos de agricultura irrigada, em operação ou em vias de implantação, estão sob responsabilidade de órgãos ligados ao governo federal. Segundo o diretor do Departamento de Desenvolvimento Hidroagrícola da Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional (MI), Ramon Flávio Gomes Rodrigues, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) está trabalhando 30 programas, com investimentos na ordem de R$ 703 milhões. O Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) é responsável por 38. Os recursos até 2008 somaram R$ 470 milhões. Já o MI investiu R$ 974 milhões em 22 projetos. Para 2009, a previsão é que mais R$ 334 milhões sejam aplicados, pelos três órgãos, em áreas com potencial de água e solo aptos à irrigação.
Porém, Rodrigues esclarece que mesmo nos projetos públicos, grande parte dos investimentos nas parcelas individuais, empresarias e familiares ocorre com recursos dos produtores ou por meio de critérios, dos quais os irrigantes têm de prestar contas.


Silvia Palhares - Revista Terra Viva, nº 08, março de 2009, p. 62 a 66


Fonte: UNESP

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